segunda-feira, 20 de junho de 2011

RELATÓRIO DA EXCURSÃO PARA LARANJEIRAS, MARUIM E SANTO AMARO DAS BROTAS

RELATÓRIO DA EXCURSÃO PARA LARANJEIRAS, MARUIM E SANTO AMARO DAS BROTAS


Relatório apresentado ao profº Drº Antônio Lindvaldo, coordenador da disciplina Temas de História de Sergipe II, tendo como meta realizar a atividade 1, proposta no planejamento acadêmico no período 2011/01.

Maria Rosane Vasconcelos Santos
Mary Karla Vasconcelos Santos
Nelson Oliveira Sobrinho
Valdirene Santos Silva



LARANJEIRAS-SE
MAIO DE 2011


INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por finalidade relatar a viagem realizada pelos alunos do  curso de História da Universidade Federal de Sergipe, no dia 28 de maio de 2011 às Cidades de Laranjeiras, Santo Amaro da Brotas e Maruim, com a finalidade de compreender a sociedade açucareira, na região  do Cotinguiba, no contexto da formação da sociedade sergipana do século XIX até as primeiras décadas do século XX.
3.2-Objetivos Específicos:
1-Aprender como se constituiu a sociedade canavieira, principalmente do vale do Cotinguiba: sua prosperidade e em destaque as cidades de Laranjeiras; Santo Amaro e Maruim
2-Compreender a importância dos núcleos de povoamento e dos símbolos do cristianismo católico no firmamento do domínio do Estado na sociedade colonial sergipana;
3-Perceber a paisagem natural no contexto harmônico dos patrimônios que compõe a cidade de Laranjeiras em especial o centro histórico;
4-Entender a importância econômica que os engenhos tiveram na ascensão urbana;
 











A excursão iniciou-se às 9 horas na praça da matriz ao lado da Igreja Sagrado Coração de Jesus em laranjeiras  de onde  seguimos para a Igreja Nossa Senhora da Conceição da Comandaroba, segunda construção jesuítica, neste local foi apresentado o um seminário que teve como foco o núcleo de povoamento da região do Cotinguiba,  o desenvolvimento da economia açucareira e a importância da Igreja Católica em todo esse processo.



Na exposição, foi destacado que o conflito internacional europeu, que privou a França e a Inglaterra de seus fornecedores de açúcar, causando assim a busca por novas fontes de fornecimento do produto. Outro fato que foi salientado foi às condições geoclimáticas do Cotinguiba (clima quente e úmido, solo massapê e proximidade com o rio de mesmo nome). Com todas essas condições favoráveis, corroborou para o implemento da produção açucareira, o que se deu somente a partir do segundo ciclo do período açucareiro, o auge da produção  deu-se por volta de 1850, com a alta do preço do açúcar que fez com que a região do Cotinguiba se tornasse a maior produtora da província. Sua importância foi tanta que o rio Sergipe foi considerado como seu afluente.
Tomando-se com base a obra de Murilo Marques, foi exposto que o povoamento de Laranjeiras fora oriundo da doação das sesmarias de Manilha(1606) e Bom Jesus (1686) esta última formada ao redor de uma capela. Com o tempo a população cresceu e o local virou parada para os viajantes, onde foi criado o porto de Laranjeiras, pois tinha várias Laranjeiras às margens do rio. O local ganhou tal importância que surgiu uma feira que se tornou uma atividade de destaque  contribuindo para o crescimento do núcleo urbano. Durante esse processo a Igreja aliada ao Estado se mostra uma instituição forte, símbolo da Coroa portuguesa. Isto é visto pela quantidade de templos católicos construídos nas adjacências. Destaca-se dentre estas construções a Igreja consagrada a Nossa Senhora da Conceição da Comandaroba, construída em 1734 em estilo rococó e barroco, com suas paredes e portas grossas que tinham, também a finalidade de defesa.
Partindo da igreja matriz Sagrado Coração de Jesus, percorremos a rua que tem o mesmo nome, chegando à prefeitura de onde se tem a visão do antigo trapiche, atual Centro de Tradições e do largo da feira. Desde séculos passados, a feira realiza-se no mesmo local. A feira assim como a missa e a festa do padroeiro, eram acontecimentos que reuniam toda a sociedade da época, desde as famílias aristocráticas que desfilavam em suas charretes até os homens livres e escravos. Nesses eventos, os moradores dos engenhos vinham para a vila fazer as compras.
Todo o patrimônio arquitetônico visitado (trapiche) forma conjunto belíssimo com a grande maioria de seus prédios restaurados, principalmente os que servem como CAMPUS da UFS - Universidade Federal de Sergipe, e outros prédios próximos estão em processo de restauração.


Andando pelo calçadão, pode-se observar alguns prédios e casarios, ao final tem-se a uma vista estratégica e  privilegiada, do lado esquerdo a feira e do lado direito, à frente, temos a Igreja matriz. Seguindo em frente, encontramos a Igreja Presbiteriana, fundada em 1884, primeira igreja protestante do estado, símbolo da ousadia e da resistência contra a força da Igreja Católica, a mesma encontra-se em atividade até os dias atuais. Defronte à Igreja Presbiteriana, temos a Escola Estadual Zizinha Guimarães (antigo sobrado de Massur) em homenagem a professora que deu  importantes contribuições para a formação da sociedade laranjeirense. Proseguindo pela mesma rua, passamos pelo museu Afro que guarda um grande acervo de objetos e indumentárias utilizadas pelos escravos. Do lado do referido museu, temos à rua Francisco Bragança, popular rua das pedras, feita pelos escravos, que nos leva ao antigo hospital, hoje em ruínas, ao lado do hospital vemos a loja maçônica, ambos localizam-se na lateral esquerda da Igreja Nossa Senhora da Conceição dos Pardos  ( igreja do galo). À frente da igreja, ainda de pé vemos a fachada do antigo teatro, hoje em ruínas. Algumas construções foram demolidas para dar lugar a novos empreendimentos como é o caso da residência dos Odebrech, hoje o que vemos é a praça de eventos, demonstrando a falta de conscientização das autoridades e dá própria comunidade quanto à preservação do patrimônio histórico.
Outra característica observada é a harmonia entre natureza, com árvores e vegetação da época colonial, e as construções.
A visita à Laranjeiras, nos dá a idéia de como a sociedade açucareira se formou numa época de produtividade e prosperidade econômica, registradas em sua arquitetura, em grande maioria presente até os dias de hoje.  
Saindo de Laranjeiras, fomos até a Cidade de Santo  Amaro das Brotas, onde se apresenta forte a relação Estado/Igreja. Na praça da Matriz, pode-se observar seu templo maior uma construção que obedece as condições para a edificação de uma igreja que era previamente estabelecida: com adro na frente e ter espaço em suas laterais (para as manifestações religiosas como para suas procissões); não devia haver lugares profanos em suas proximidades, bares e prostituições, por ser lugar de transmissão de regras da sociedade.
Um núcleo de povoamento para ser considerada freguesia deveria ter o adro, a cadeia e o pelourinho. Santo Amaro foi considerado a categoria de Vila em 19 de maio de 1699, conforme o documento do Conselho Ultramarino da Coroa portuguesa.
Outros pontos que merecem destaques da história de Santo Amaro: No início do século XIX, segundo, Pe. Marcos Antônio de Sousa (1944:80) o município já despontava com mais de 40 engenhos(1808).  Em outubro de 1828, a sede da Vila de Santo Amaro é transferida para onde é hoje Maruim. Os santamarenses se insurgiram e com grande força armada invadiram Maruim e  retomaram os cartórios e os prédios públicos. Em fevereiro de 1835, a província chegou a extinguir a Vila de Santo Amaro, deixando-a dependente de Maruim. Diante desse ato do povo de Santo Amaro, o governador Manoel Lisboa reuniu às pressas os membros da Assembléia Legislativa e restituiu Santo Amaro como vila independente.
Outro fato importante foi a mudança de nome da Cidade que passou a ser chamada de “Juruama”, nome recusado pela população. O nome Santo Amaro, segundo alguns historiadores, foi dado em homenagem a Amaro Ayres da Rocha, fidalgo português que herdou as terras às margens do lado esquerdo do rio Sergipe por combater no exército de Cristóvão de Barros.
Hoje a cidade encontra-se em franca decadência, diante da grande prosperidade que já vivenciou em ser a grande produtora açucareira da província.
Ao final de nossa excursão fomos visitar o engenho Pedras situado na cidade de Maruim, este  foi um dos mais poderosos de Sergipe no século XIX,  obteve o seu esplendor por ocupar  as lacunas deixadas pela crise nas Antilhas e por ter uma posição privilegiada, pois encontrasse próximo ao Ganhamoroba o que facilitava  o escoar da sua produção.
Em seu auge esse complexo chegou a possuir 129 escravos em 1866, a forma de tratamento destes era diferenciada dos engenhos tradicionais, pois as senzalas eram em forma de casas uni familiares, o que certamente facilitava reprodução. Esse fato era visto como uma forma de ampliar o numero de peças, já que na época  o tráfico de escravos estava proibido devido a lei Eusébio de Queiros e ainda os poucos escravos restantes estavam sendo remanejados para o sul, o que fazia o preço do escravo subir cada vez mais no Nordeste. Apesar disso, seus donos resistiram bastante a substituição da mão de obra escravo pelo a vapor (somente em 1910) , devido a dificuldade de substituição de peças caso o maquinário quebrasse, pois aqui não havia casas de fundição.
A queda do preço internacional do açúcar associada a um período de secas e doenças, a ainda a partilha de bens seja pelos casamentos ou pós morte fizeram com que a propriedade perdesse seu prestígio e paulatinamente declinasse para o que infelizmente  hoje não passa de ruínas.


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